Quando falamos de Povo de Rua, falamos de sabedoria, de rolê, de malandragem, de ginga, de gente que sabe fazer as coisas. É o povo do corre, do rolê, povo que conhecem todos e que tudo observa. Povo que tem tudo na ponta da língua, na ponta da faca, na ponta do olhar, na palma da mão. É gente que sabe fazer e desfazer para até quem não acredita crer. É gente que gosta de gente como eles... e quem é como eles?
A Rua é lugar de encontros e desencontros. É na rua que tudo acontece, que tudo some, que tudo se resolve, que tudo se acolhe, que tudo aparece, cresce e floresce.
A rua é um transe... é uma transa, é uma dança. É na rua se cruza saberes, ciências e encantamentos de povos de tudo que é jeito e tipo... a rua é um cruzo! Cruzamento que sacraliza o profano e profana o sagrado. A Rua é o cuspe de Exu que tudo coloca na boca, mastiga e cospe pra renovar essa gente que perambula ao lado dele.
Tem morador na Rua, moço.
A Rua tem dono, minha gente.
A Rua tem dona, minha senhora.
A Rua é de Exu!
Exu é quem faz!
Quem acolhe e dá sentido aos marginalizados por uma sociedade elitista, racista em busca de POP. Mas que de POP que vira TOP é o nível de karma que gera, pra colher de forma lenta. Não teria graça se fosse rápido. A forma lenta cura, acredite nisso.
Amizade da boa mesmo se faz na Rua, mas esquinas da vida, nas vielas e becos.
Onde Exu e Pombagira se multiplicam em facetas, virando Tranca Ruas, Marabôs, Veludos, Foguinhos, Folhinhas, Gira Mundos, Marias, Meninas, Rainhas, Ciganas, Baianos e todos mais que na Rua fizeram sua morada.
A sua casa não tem parede, não tem janela, e não tem nada. Porque é na Rua a sua morada. A sua morada são as ruas do mundo, as Ruas da vida.
O pulso do coração de Exu e Pombagira é na liberdade que só se encontra na Rua. Qualquer outro lugar nesse mundo pífio, tem amarras. E quem vai desamarrar, você já tem ideia de quem serão.
Que possamos entender a força desse movimento, desse rolê que luta contra as desigualdades dessa sociedade tão doente, mesquinha e bobinha.
Que possamos fazer parte deste movimento de forma ativa e construir com essa galera, esse Povo de Rua algo forte, justo e mais do que necessário para que todos possam viver de forma justa e honrada.
Dignidade a todos! Respeito a todos! É que o que se busca.
Virou musica na boca do "exunizado" Emicida, que também mastigou as mazelas da vida e cuspiu transformando em versos:
"Quem tem um amigo tem tudo
Se a bala come, mano, ele se põe de escudo
Pronto pro que vier memo a qualquer segundo
É um ombro pra chorar depois do fim do mundo"
Olha pra Rua.
Viva a Rua.
Seja a Rua.
E sempre, coloque um agrado na Rua, ali tem morador.
Laroyê!
Pai Daniel
Comments